Entrevista com Ana Stoppa

Conte-nos um pouco das suas atividades profissionais.

Desde 1991 atuo como advogada trabalhista e cível especializada em acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Deus me deu a oportunidade de me preparar com o curso de Direito e a pós-graduação, para exercer a profissão que amo. Defender o direito do próximo é extremamente gratificante. O resultado financeiro é secundário, que vem como consequência do trabalho, que desde 2012 me permite custear a publicação dos livros. Além das atividades, estou Diretora de Ação Social, na OAB de Santo André, nomeada ela segunda vez, este trabalho voluntário me permite visitar instituições que abrigam idosos e algumas que atendem crianças nos períodos inversos do escolar em nosso município, para a doação dos alimentos arrecadados nas palestras promovidas na Casa da Advocacia Andreense, e atuar na arrecadação de doações para as Campanhas do Agasalho, Dia da Criança e Natal.

Quando surgiu a vontade de escrever livros? E quando publicou o primeiro?

Escrevo desde os 13 anos de idade. A vontade de publicar um livro surgiu no final dos anos 1980, o que foi concretizado com através do Rotary Club São Caetano Sul Leste, com a publicação de “Diagnóstico”, poemas, 2.000 exemplares, cuja renda foi totalmente revertida para uma das campanhas do Rotary, a erradicação da paralisia infantil da face da terra, Projeto Polio Plus.

Fale-nos dos livros que você lançou.

O retorno da leitura é a escrita. Desde os primeiros anos escolares recebi o incentivo dos professores especialmente nos textos escritos.

No lançamento do primeiro livro, no ano de 1989, um grande sonho que se transformou em realidade, na inesquecível noite de autógrafos, meus saudosos pais estavam presentes. Sobre os gêneros que escrevo... Iniciei com crônicas, em seguida poesia, contos e pensamentos. Quando os meus filhos eram pequenos, tudo sempre corrido, pois concluí o ensino médio, a faculdade e a pós graduação depois de casada, havia o tempo para lhes contar histórias, aquelas que ouvi como criança e outras que foram surgindo da imaginação. Aos poucos foram escritas.

Tive uma identificação com a literatura infantil. Aos 8 anos de idade, ganhei dos meus pais o único livro infantil, “A Rainha da Neve”, de Hans Christian Andersen. Perdi a conta de quantas vezes li este livro! Esta obra me fez entender ainda na infância o quanto os livros são importantes, o conhecimento que eles nos transmitem, as viagens, a fantasia. Gradativamente, compreendi também a importância da informação, o enriquecimento do vocabulário a facilidade na escrita e a da cultura que eles nos transmitem.

Sobre os livros, entre 1989 e 2012, publiquei esporadicamente artigos, poesias, crônicas. Neste período dediquei-me à carreira jurídica com bastante ênfase. Terminei o curso de Direito em 1989, a pós-graduação na PUC-SP, cursei entre 2002-2003).

Entre o início dos anos 1980 até 2012, escrevi dezenas de histórias infantis. Quando tive condições financeiras, em 2012, idealizei um projeto para incentivar a leitura, publicando o primeiro livro, “Lelé - o navegador dos sonhos”, texto classificado em 1º lugar em 1989, em um concurso promovido pela Secretaria de Educação de Barueri. Em seguida, veio a publicação de “Rafael - o ursinho guloso”, conteúdo: alimentação saudável, esporte e disciplina. Desde então as publicações foram se multiplicando, “Oração dos bichos”, “Estela - a pata bela”, “A fada Verbena defensora da natureza”, “A fada Mirabela e o sapo Guaraci”, “O tatu Teotônio em busca do planeta perfeito”, “Gigi, a joaninha ambientalista”, e “Os jardins das três meninas”, que abordam o meio ambiente e a proteção da natureza. “O Rio que era doce”, única publicação destinada ao público infantojuvenil retrata a tragédia de Mariana. “O Ronrom do Bombom”, “Cacau, o cachorrinho legal” e “Tutuco, o cachorro amigão”, incentivam os pequenos leitores a cuidarem dos animais. “Caó, o cavalinho de um olho só” trata da inclusão social, “Cristal, a corujinha cantora” mostra a importância da verdade e da autoestima. “Descomplicando a segurança” e “Juvenal, o motorista distraído, foram escritos para o Cptran, abordam educação para o trânsito ( trabalho voluntário), edições publicadas pelo Cptran 5.000 exemplares cada título distribuídos gratuitamente nos projetos do Cptran na semana de educação para o trânsito em São Paulo.

Além das obras citada, publiquei obras em português e algumas em italiano - literatura infantil, poesia se pensamentos. Também participei em dezenas antologias, publicadas no Brasil, Portugal, Moçambique, Itália e Romênia.

Qual a mensagem você passa nos livros?

Através da magia da literatura infantil que proporciona lazer e ao mesmo tempo informação, com a sedimentação dos valores no coração dos pequenos leitores, os livros que Deus me permite escrever abordam o meio ambiente e o respeito à natureza, a importância do dever de cada cuidar, respeitar e proteger o meio ambiente, porque o planeta é único, não existe o jogar fora, tudo de bom e de ruim que acontece afeta todos. Algumas publicações abordam os cuidados e o respeito aos animais, a importância da verdade, a inclusão social.

Você participa de várias Academias Literárias, na sua opinião, quais os principais trabalhos que devem ser desenvolvidos por elas?

A divulgação da literatura em todos os gêneros, o incentivo à leitura através da idealização e concretização de projetos voluntários que levem os acadêmicos até as escolas para que as crianças além de incentivo mantenham contato com os escritores, a valorização do jovem escritor.

Você também desenvolve um trabalho ambiental. Conte-nos sobre o projeto que você participa.

O Projeto Primavera - Plante o Planeta Agradece, criei no ano de 2012, hoje está na 8º edição. Trata-se de um concurso anual de redação e poesias, cujos temas são relacionados ao meio ambiente. Também ocorre o plantio de árvores nas escolas participantes. Cada escola classifica os textos, aqueles identificados como primeiros classificados recebem Diplomas de Honra ao Mérito e Medalhas. A escola recebe o certificado de Escola Amiga do Meio Ambiente. Em 2018, apresentei a sugestão para o então Secretário do Meio Ambiente de Santo André, sobre o plantio coletivo de árvores nas escolas públicas. Em setembro passado, estive na solenidade quando o prefeito e o secretário confirmaram a inclusão deste evento no calendário oficial do município para festejar o Dia da Árvore.

Alguma nova publicação em 2019?

Neste ano foram publicados “Tutuco, o cachorro amigão”, “Os jardins das três meninas” e a nova edição de “Cristal, a corujinha cantora”.

Como você analisa o mercado editorial brasileiro?

Muitos argumentam que os avanços tecnológicos diminuíram o interesse pelo livro impresso. No entanto, nas visitas que fiz, por conta do projeto, para a distribuição gratuita de livros, nas mais de 180 escolas públicas entre 2012 e 2019, é nítido o interesse da criança pelo conteúdo do livro. No entanto a maioria da população não tem condições para adquirir. De outro lado, grandes livrarias encerraram as atividades. Publicações dos clássicos em massa, são comercializadas a baixo custo, os novos autores tem dificuldades em publicar. Entendo que além do incentivo à leitura, é preciso que se criem mecanismos para que os livros cheguem, especialmente até as crianças, de forma gratuita, isto porque a educação se traduz no maior dos pilares para o desenvolvimento do ser humano.

O que a levou a ajudar o projeto literário que está sendo desenvolvido em São Lourenço? Como vê a ideia de trocar livros por alimentos e também de difundir a leitura compartilhando livros com quem ama ler, mas não pode comprá-los?

Quando no foi solicitada a doação de livros, ao navegar no site compreendemos a amplitude e a importância do projeto, diria inovador desenvolvido em São Lourenço, na medida em que este que agrega o incentivo e a possibilidade da leitura com a solidariedade. Muitas pessoas, embora tenham o hábito da leitura, não possuem recurso financeiro para adquirir livros. E a evolução tecnológica jamais os substituirá. Quanto a solidariedade, esta é importante e necessária, para o equilíbrio social. Penso que a nossa trajetória nesta breve vida não se resume a concretizar sonhos, conquistar bens materiais, ou desfrutá-los. A participação social é essencial, este é um dos motivos que me levaram a criar os projetos. Parabenizo os idealizadores deste projeto. Sempre que possível enviarei as doações.