Entrevista com Irma Galhardo

Conte-nos um pouco da sua trajetória.

Eu sempre fui envolvida com literatura, especialmente com a poesia e a contação de histórias, então foi tudo muito natural. Costumo dizer que o verso foi minha primeira linguagem, pois me lembro da poesia como companheira desde sempre, meu pai me conduziu por esse caminho muito cedo. Além disso, tive a sorte de nascer em uma cidadezinha sem TV e com uma maravilhosa biblioteca infantil, os livros entraram em minha vida como forma de prazer e como gênero de primeira necessidade, saciando minha fome de saber em tempos antes do Google.

Depois cresci e me envolvi com algumas coisas que não gostei muito, como cursar Direito e ser advogada. Ainda bem que tive coragem para desistir do mundo jurídico e recomeçar com a literatura! Lancei meu primeiro livro em 2011 e de lá para cá intensifiquei meu ativismo literário, publiquei novos livros e desenvolvi projetos de incentivo à leitura que impactaram positivamente milhares de crianças de baixa renda. Também procurei estudar mais e me especializar na área, assim voltei para a Universidade, fiz mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal do Tocantis (UFT) e já estou me preparando para o processo seletivo do doutorado, que também será nessa linha do Letramento Literário.

Como surgiu a ideia de criar o “Caravana de Lendas do Tocantins”?

Eu moro no Tocantins, estado novo e com baixo índice de leitores. Com o tempo percebi que as histórias da região não haviam sido registradas em formato de literatura infantil, vi que em agosto, quando as escolas do Brasil estudavam folclore os alunos daqui consumiam as lendas de outros estados, como se não tivessem uma cultura própria. Então como pesquisadora da tradição oral resolvi registrar essas narrativas e assim nasceu a coleção Lendas do Tocantins. Posteriormente concebi o projeto para levar esse material aos alunos da rede pública. A primeira vez foi ainda em 2014, através do edital Amazônia Cultural 2013, do então Ministério da Cultura. Foi um sucesso! Viajamos por muitos municípios contemplando crianças de baixa renda, alguns, inclusive, tiveram seu primeiro contato com um livro infantil ali. E o interessante é que são livros que falam da realidade desses alunos, e dessa forma o projeto acaba contribuindo também para reforçar a identidade cultural de um estado ainda em construção.

O projeto consiste na circulação da escritora Irma Galhardo (eu) e de suas obras, levando livros, contação de histórias, oficinas, plantio coletivo de árvores e acesso cultural aos jovens estudantes das escolas públicas do Tocantins. O objetivo é, sobretudo, incentivar a leitura, mas outras possibilidades são trabalhadas também, como a conscientização ambiental que é feita através do plantio coletivo de árvore acompanhado de uma breve fala sobre o assunto, e as diferentes oficinas que contribuem para desenvolver novas habilidades.

Na prática nós passamos inicialmente nas escolas e deixamos os livros do projeto, juntamente com uma apostila de sugestão de atividades fundamentadas nas teorias do letramento literário. Disponibilizamos também uma pequena formação para os professores que trabalharão esses livros. Depois os livros são apresentados aos alunos, através de estratégias prazerosas de aproximação que as professoras desenvolverão, tudo com base no letramento literário. Assim as crianças tem contato com os livros da Caravana durante um determinado período e na culminância do projeto a Caravana de Lendas passa pela escola apresentando espetáculo de contação de histórias com sorteio de livros, momento de autógrafo, performance poética e oficinas para os professores e alunos. Na culminância é também o momento do aluno conhecer e interagir com a autora, algo que pode parecer insignificante, mas que tem sua importância nesse processo de estímulo à leitura. Certo é que somos o maior projeto de Livro/Leitura do estado do Tocantins e já totalizamos 41 edições! Semeando versos, distribuindo livros e plantando alegria no coração de jovens estudantes, acreditando que um amanhã melhor se fará com livros, leituras, histórias, conscientização ecológica e amor!

Como é a receptividade do público ao projeto?

A receptividade é muito boa, tanto as crianças como os professores se encantam com a possibilidade de ouvir histórias. Além disso o cenário é lindo, tem sorteio de livros, poesia, muita alegria e encantamento, todos gostamos, eu, inclusive. E eles convivem com meus livros por quase um bimestre, então quando eu chego todos querem me abraçar, têm cartinhas, bilhetes, desenhos, manifestações de carinho maravilhosas! Sempre volto cansada, mas muito energizada.

Quais os prêmios conquistados?

Conquistamos dois prêmios e fomos contemplados em outros dois editais de patrocínio cultural, que acaba sendo prêmio também, pois traz recurso: Prêmio Brasil Criativo 2016; Prêmio Selma do Coco 2018 – MinC; Edital Amazônia Cultural 2013, do MinC; Edital de Patrocínio Cultural 2016, do Banco da Amazônia.

Quais as intenções para o projeto no futuro?

Fomos aprovados pela Lei Rouanet e estamos em fase de captação. O recurso é para circular por 100 escolas de Palmas. Palmas não tem 100 escolas públicas, então contemplaremos também algumas cidades próximas. E depois continuaremos, apresentaremos novas propostas aos editais disponíveis e levaremos nossos livros aos 139 municípios do estado, contemplaremos assim todas as nossas crianças e contribuiremos para alterar positivamente a realidade social do Tocantins.