Entrevista com Shamara Paz

Conte-nos um pouco da sua trajetória.

Desde criança sempre sonhei em ser professora. A minha brincadeira preferida era “brincar de escolinha”. Lembro que ao completar 9 anos, pedi para minha mãe um quadro negro com giz. Ela, muito carinhosa, comprou... Então era uma alegria só! Aos 15 anos, iniciei o Curso Normal Médio e passei 4 anos estudando o que eu mais gostava: a arte de ensinar. Concluí o curso aos 18 anos, mas infelizmente não tive condições de ingressar numa universidade e na época não tinha conhecimentos sobre universidades públicas. Porém, no ano seguinte, 2007, comecei a trabalhar no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, por meio de uma seleção simplificada. Lembro até hoje: A seleção foi a elaboração de uma redação que teve por tema “A Cultura de Glória do Goitá”. Na hora sorri e comecei a escrever com gosto, pois falar da cultura da minha cidade era algo apaixonante e escrever fazia parte de minha rotina. Escrevia muito em diários e adorava relatar os acontecimentos do meu dia.

Em 2010, tive a oportunidade de ingressar no Curso de Pedagogia, aos 22 anos. Em 2012, fui aprovada no vestibular da Universidade Federal de Pernambuco e comecei a cursar Letras - Língua Portuguesa, um curso que se entrelaçou perfeitamente com Pedagogia e pelo amor aos livros. Dediquei-me com toda força de vontade e concluí os cursos sem nenhuma reprovação. Tinha um grande sonho: ser aprovada em um concurso público para professora. Passei um tempo desempregada e foi muito angustiante, mas Deus sempre me ajudou e consegui emprego numa instituição privada. Lutei pelo meu sonho, passava horas estudando nas madrugadas e no ano de 2015 fui aprovada no concurso público para professora. Era um sonho de criança sendo realizado! Trabalho na rede municipal há 4 anos e como agente de transformação, busco contribuir com o desenvolvimento dos meus alunos, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento social e à formação de leitores ativos.

Como surgiu a ideia de criar o “Biblioteca de uma Professora”?

Sempre fui uma leitora voraz, uma “bibliófila”, como diz o escritor Jostein Gaarder, então, gostava de compartilhar o que lia, nos meus perfis pessoais. A ideia de criar um espaço voltado para um público maior, aconteceu após a conclusão do Curso “Formação de Mediadores de Leitura” oferecido pela Fundação Demócrito Rocha. Durante esse curso fui criando várias ideias e uma delas foi criar o Instagram Literário. Em relação ao blog, o espaço já existia desde 2010, com o nome “Shamara Paz, pedagogicamente blogando”. Decidi reativá-lo e integrá-lo às ações da Biblioteca. Escolhi o nome “Biblioteca de uma professora” devido à biblioteca pessoal de minha casa, uma junção dos meus livros com o livro do meu esposo Teófilo de Sousa, e herança dos nossos filhos.

Quais os objetivos do espaço?

O principal objetivo é disseminar a leitura. Assim, busca-se a socialização de textos autorais, bem como a valorização dos escritores, sobretudo, os nacionais. Há a divulgação de revistas literárias, livros de escritores parceiros ou não, socialização de leituras atuais e resenhas literárias. Além disso, o blog tem a intenção de compartilhar as ações vinculadas à leitura e à escrita de minha sala. Busco compartilhar ações de projetos literários, ações do Clube do Livro, criado pela primeira escritora parceira da nossa biblioteca, Zezinha Lins.

Como é a aceitação do público?

Há uma grande sintonia. As pessoas que estão na “Biblioteca de uma Professora”, são pessoas com o mesmo propósito. Juntos, compartilhamos o nosso amor pelos livros. Trato o público com muito carinho, são bibliófilos e bibliófilas disseminando a leitura.

Você tem alguns textos publicados na internet. Qual a repercussão deles?

Entrei no mundo da escrita ao público em meados de 2019. Nunca me imaginei escrevendo poemas e crônicas para o público. Nunca imaginei pessoas lendo minhas linhas. Então, recebi um convite do Poeta Renato Baptista, criador e fundador da Casa da Poesia, para participar da Antologia de poesias, contos e crônicas da Casa da Poesia. No início, fiquei receosa, mas depois que comecei a rabiscar, colocar meus pensamentos no papel e me aproximar da caneta de uma forma mais poética, comecei a gostar da ideia. Então, me dei uma chance e resolvi escrever, com o objetivo de expressar minhas ideias. Ainda sou uma aprendiz no mundo da escrita, assim, acredito que meus amigos e bibliófilos (seguidores da biblioteca) estão gostando e me ajudando a continuar.

E os livros que saíram impressos?

Até o momento, tive a oportunidade de participar de dois livros físicos. São as Antologias: Antologia de poesias, contos e crônicas da Casa da Poesia - oportunidade em que publiquei o Poema “Primavera, obrigada por sempre voltar” e a Crônica “Quero ficar bem pertinho da janela”; Concurso Nacional Novos Poetas- Poetize 2020 – oportunidade em que tive o Poema “A menina que virou professora” selecionado e publicado.

Qual a sua opinião sobre o mercado literário brasileiro?

O mercado literário brasileiro não está em boa situação, afinal, muitas livrarias estão fechando as portas, atoladas em dívidas. Infelizmente, ainda não fazemos parte de um país de leitores. Estamos diante de uma urgência em formar leitores. A escola e a família são os principais responsáveis pela prática de leitura. É preciso que haja formação de “mediadores de leitura”, para que depois haja a formação de leitores na escola. Muitos professores não têm o hábito da leitura, então como formar leitores se não somos leitores? Impossível! É preciso que haja um reencontro dos professores com os livros, assim estaremos contribuindo com a formação de crianças leitoras, afinal, elas são o futuro do nosso país. Devemos fazer com que nossas crianças sejam futuros adultos leitores, que leiam por prazer, por estímulo e não por obrigação.

O que você acha do Mais Leitura?

Conheci o Projeto Mais Leitura há pouco tempo, por meio da Escritora Luiza Moura e o considero uma iniciativa fantástica. Quero parabenizar os responsáveis e dizer que continuem firmes nesse propósito de disseminação da leitura. Projetos como o Mais Leitura são necessários, pois ajudarão as pessoas que infelizmente não têm acesso a livros. Além disso, é uma oportunidade de dar vida aos livros, afinal, livro parado, empoeirado, não tem sentido. O livro tem que circular... Muitas vezes, já encontrei livros no lixo. Uma pena! Então, se você não quer mais aquele livro, não tem espaço em sua casa, ou outro motivo, doe! Doe livro, doe oportunidade, doe palavras, doe amor, doe transformação... É preciso que esse projeto seja cada vez mais divulgado. Parabéns e avante!