Entrevista com Xico Farias

Além de escritor, você exerce outras atividades? 

Como grande parte dos artistas no Brasil, sim, tenho um trabalho que me garante uma sobrevivência digna e tranquilidade para continuar fazendo arte. Felizmente, esse trabalho não me causa nenhum dano, mas me exige muita disciplina.

Quando começou a sua paixão pelos livros?

A arte sempre esteve presente na minha vida. Desde criança me vejo envolvido com esta atividade, ora mais intensamente noutras com algum distanciamento, mas nunca nos deixamos. Não saberia viver sem ela, a arte.

No seu livro de estreia, “Aventuras da ratinha cantora de ópera na Cidade Maravilhosa”, você explica de forma lúdica para as crianças o período da ditadura militar no Brasil. Como surgiu a ideia do projeto? E como tem sido a reação do público? 

No início a ideia era escrever sobre o universo da ópera, um gênero tão pouco apreciado e com o estigma de ser feito para a elite. Como as óperas tratam muito de tragédias, achei que situar a narrativa no período da ditadura militar no Brasil poderia ser muito interessante para falar de um assunto tão caro nos nossos dias: a democracia. Felizmente os leitores têm gostado bastante. Outra coisa que agrada muito é o fato de a história acontecer no Centro do Rio de janeiro porque todos os locais citados no livro ainda existem e merecem uma visita dos leitores.

Você lançou recentemente “Maria Flor, a última ararinha-azul”. Fale um pouco sobre o livro. 

Tenho o cuidado de sempre tratar de temas relevantes nos meus livros, que, de alguma maneira, possam contribuir com a formação do jovem leitor. Este trata de um assunto muito caro para mim. O combate à extinção de animais silvestres e a preservação da Natureza é o mote para contar a história de amor e superação de Maria Flor, a última Ararinha-Azul, um dos muitos animais silvestres que correm o risco de extinção em consequência da ação predatória do homem. Um grito de alerta em favor da preservação da Natureza e do combate ao tráfico de animais silvestre – o terceiro mais lucrativo comércio ilegal em todo o mundo – é o tema central do livro que narra de forma lúdica, mas também com ação, suspense e romance a luta da jovem e decidida Maria Flor para garantir a sua sobrevivência e, consequentemente, salvar a sua espécie da extinção. Não podemos esquecer que nossa existência também depende da preservação do meio ambiente e do equilíbrio dos ecossistemas. O jovem leitor precisa estar alinhado com esses temas. As escolas precisam promover ações contínuas sobre essas questões no seu ambiente.

Como você divulga o seu trabalho?

Eu sou um escritor que trabalha com pequenas editoras, que raramente têm verba para divulgar seus autores. No meu caso, uso minha rede social, bibliotecas, entidades que promovem a literatura nas suas comunidades e, em alguma medida, a imprensa especializada. As escolas também são uma possibilidade muito interessante, mas de difícil acesso. É um trabalho bastante árduo que requer tempo para gerar resultados.

Como você analisa o mercado editorial brasileiro? 

O Brasil é um país de poucos leitores– em torno de 6% apenas consomem literatura infantil e juvenil – e muito s autores disputando um espaço onde poucos conseguem furar a bolha para chegar até esses leitores. No caso dos autores independentes e das pequenas editoras é uma luta diária para ter visibilidade e chegar às livrarias que, por sua vez, raramente aceitam autores sem reconhecimento no mercado em seus catálogos. Se formos olhar a lista dos mais vendidos pouco ou raramente encontramos autores nacionais. Será que somente os estrangeiros sabem fazer literatura? Por isso acho tão necessário somarmos forças na formação de jovens leitores que prestigiem a nossa literatura, que disseminem a literatura em suas famílias e comunidades, que façam do hábito da leitura algo importante nas suas vidas. Os pais e as escolas também precisam olhar com carinho para esse tema. Algum novo projeto ainda para 2023?

Algum novo projeto ainda para 2023?

Tenho dois livros prestes a serem lançados, um para o público adulto e um infantil. Espero que tudo dê certo para que os lançamentos se concretizem ainda este ano.

O que o levou a apoiar o Mais Leitura? Como vê a ideia de difundir a leitura entregando livros para quem ama ler, mas não pode comprá-los?

Porque acho extremamente valoroso a iniciativa de vocês em fazer da literatura algo acessível, de ajudar os autores a divulgar suas histórias, de levar às crianças a possibilidade de explorar outros universos que, com certeza, lhes possibilitará olhar o mundo com mais empatia, amor e respeito.